sexta-feira, 3 de abril de 2009

Hereditariedade e educação

III
“Filho és pai serás, assim como fizeres assim acharás.” Este provérbio faz parte da cultura tradicional portuguesa, fala-nos genericamente da hereditariedade e da educação. Assente no senso comum, é pois um conhecimento baseado nas aparências, subjectivo e empírico. Envolve interesses e principalmente emoções e valores de quem o formula, pois normalmente está ligado ao conhecimento da actuação de algum pai ou filho. Este provérbio tal como todos os ditados populares, são generalistas, imprecisos e inválidos. Referem-se sempre a factos muito gerais e são formulados de forma vaga. No caso é um filho indistinto, com comportamentos indeterminados que se tornará pai e os seus filhos serão determinados por aquilo que este fizer ou seja.
O desenvolvimento humano é um processo global que implica o crescimento físico, a maturação biológica e a aprendizagem. Estes três factores estão intrinsecamente conjugados sendo impossível avaliar qual o que tem maior influencia no individuo.
A nossa herança genética embora portadora de muitos traços físicos e até psicológicos, não é determinante. O património genético é determinante no aspecto físico, um casal de olhos azuis homozigóticos terá com grande probabilidade de ter um filho ou filha de olhos azuis, mas em relação à sua personalidade ou aptidões essas são, essencialmente, influenciadas pelo meio e pela educação. A educação e o meio ambiente em que crescemos e as experiencias a que estamos sujeitos é que nos tornam seres únicos.
Este provérbio realça bem o facto de a educação ser determinante no desenvolvimento do ser humano. Há até um adágio que completa o anterior, que diz, que “a educação de um filho começa 20 anos antes de ele nascer”, referindo-se ao facto de que para se ser um bom educador se tem que ser bem educado. Educado no sentido de ser um ser equilibrado afectiva e psiquicamente (a nível interno) e integrado socialmente e culturalmente (a nível externo).
No entanto, nascemos livres e embora sejam nos primeiros anos que fazemos as grandes aquisições cognitivas, sociais e emocionais, as várias etapas ou estágios (Piaget) do nosso desenvolvimento proporcionam-nos experiencias que nos conduzem a caminhos diversos daqueles que os nossos pais nos traçaram. A influência dos pares na adolescência é significativa no sentido de nos influenciar gostos, opiniões e escolhas. É precisamente neste estádio de desenvolvimento que a influência paternal e/ou familiar deixa de ser fundamental, iniciam-se as escolhas individuais, nem sempre as mais razoáveis e positivas. Põe-se em causa tudo que aprendemos, testamos por nós, construímos as nossas vivencias, inovamos. E é nesta etapa que este provérbio é mais repetido, penso que no sentido de trazer à razão um jovem mais irreverente e com um comportamento social em relação à família mais indelicado, ou imprevisto.
Bibliografia
Morgado, Lina e Costa, Angelina (2009) “Teorias Implícitas sobre o Desenvolvimento” Psicologia do Desenvolvimento, Universidade Aberta, 1ª Parte

Desenvolvimento Humano

II
Desde a Teoria da Origem das Espécies pela Selecção Natural de Darwin ( 1859) que o mundo da cientifico tomou consciência de que o ser humano mais não é mais que um ser vivo igual aos outros. É, no entanto, pelas ínfimas diferenças do nosso material genético que nos tornam diferentes e únicos, diferenças essas que se acentuam pela influência do meio em que cada um se desenvolve.
O bebé humano é o que após o nascimento está menos preparado para enfrentar o meio e sobreviver aos desafios da natureza, em poucas semanas os reflexos inatos que apresenta vão desaparecendo e dão lugar a uma lenta e árdua aprendizagem. A capacidade ilimitada de aprender é o que lhe permite sobreviver e desenvolver todas as suas reais potencialidades. A herança genética, como diz Francois Jacob é a sua programação para aprender e esta resulta na indeterminação dos seus comportamentos biológicos e permite-lhe igualmente, adaptar-se ao meio ambiente, social e cultural. Somos o resultado daquilo que herdamos biologicamente – genótipo - mas e também sem possibilidade de quantificação em percentagem , daquilo que vivemos – fenótipo.
O desenvolvimento é, pois, um processo contínuo, global e flexível e inicia-se no momento da fecundação e cessa com a morte.
Durante algum tempo a investigação nesta área do desenvolvimento humano centrava-se muito na infância e na adolescência, pois eram etapas com alterações rápidas e visíveis, a idade adulta era relegada pois acreditava-se que o ser humano estabilizava o seu desenvolvimento mantendo-se constante até ao final dos seus dias. Hoje sabe-se que há mudança e transformação continua pois as diferentes fases da vida requerem capacidades biológicas, sociais e psíquicas muito diferenciadas.
A psicologia do desenvolvimento é uma área de estudo fundamental para conhecermos o outro, enquanto ser em desenvolvimento. Só conhecendo a evolução dos processos psicológicos, biológicos, sociais e culturais ao longo do tempo, desde a fecundação até à morte, poderemos ter praticas de ensino - aprendizagem conformes às capacidades, competências e nível de maturação próprios de cada idade. Se as aquisições cognitivas durante a infância e a juventude são realmente muito numerosas e significativas, durante as outras etapas da vida de uma forma mais branda não deixam de se efectuarem. O sistema educativo vê-se assim, confrontado com requisitos cada vez mais elevados ao nível da criatividade, da aplicação e disseminação da informação, da transferência e adaptação de conhecimentos relevantes e exigentes susceptíveis de ocorrerem ao longo da vida. O conceito de educação ao longo de toda a vida aparece, pois, como uma das chaves de acesso ao século XXI.

Psicologia do Desenvolvimento

I
1-Será o desenvolvimento do ser humano determinado por características inatas, hereditárias internas e/ou a influencia do adquirido, do meio, da educação também interferem?
O desenvolvimento humano é feito em continuidade, descontinuidade, por estádios ou através de períodos críticos?
3-O desenvolvimento dependerá mais de factores internos da pessoa ou de factores externos?
4-O desenvolvimento é um processo que implica a estabilidade da pessoa a partir de uma certa idade ou a mudança é contínua?
5- O que é que nos diferencia dos outros seres vivos?